Sem água, Hospital dos Servidores suspende consultas e exames; pacientes reclamam que não foram avisados
10/07/2024
Apenas os atendimentos emergenciais foram mantidos. Hospital dos Servidores, no Rio
Reprodução/TV Globo
O Hospital dos Servidores suspendeu todos os atendimentos que não sejam emergenciais. O motivo é a falta de água que atinge a Gamboa e outros bairros do Rio.
Pacientes reclamam que não foram avisados e tiveram que voltar para casa sem uma nova data para consultas ou exames.
O idoso Sonival, de 75 anos, fez o preparo de dois dias para uma colonoscopia, que não aconteceu. A filha não se conforma. O exame, para diagnosticar uma suspeita de câncer no intestino, tem um preparo difícil, à base de dieta e laxantes, e estava marcado há um mês.
Mas pai e filha só descobriram que o exame tinha sido desmarcado por falta d'água ao chegar ao hospital.
“Impotência, né? Poque a gente faz um preparo para estar aqui, ele está esperando exame há um tempo, ver meu pai passar por esse sofrimento, não poder realizar o exame essencial pra gente ter uma definição da doença dele. É muito triste, muito revoltante, a nossa saúde a gente depende do SUS, a gente depende do hospital, e não ter o atendimento adequado", fala a filha do idoso, Gabriela Perpétua.
Dona Deise Martins voltou para casa sem atendimento pelo mesmo motivo. Ela tinha uma consulta marcada há 5 meses com o reumatologista.
Apesar da greve dos servidores dos hospitais federais no Rio, o Hospital dos Servidores vem atendendo normalmente. São quase 400 leitos de internação ocupados.
E justamente para manutenção mínima desses pacientes, o atendimento externo teve que ser interrompido. É o que diz o comunicado desta quarta-feira (10) do hospital.
“Suspensão de atendimentos ambulatoriais, internações, cirurgias eletivas, exames e todo e qualquer tipo de atendimento que não seja de urgência e emergência por 3 dias.”
Os pacientes entendem que não dá para ser atendido sem água no hospital. O que eles não aceitam é o fato de não terem sido avisados e de já não terem com uma nova data marcada.
Seu Edilson tem 81 anos e veio de Araruama, na Região dos Lagos, a mais de cem quilômetros de distância, para uma endoscopia na unidade de saúde. Ele faz tratamento contra o câncer.
“Além do preparo que ele teve de ficar sem se alimentar direito no dia anterior do exame, a gente não tem condições financeiras de ficar indo ao hospital sempre. A gente rateia, faz uma vaquinha com os filhos, com os netos, para que ele possa ir ao hospital e isso nunca é lembrado, nunca é falado", diz o neto, Felipe Buturi.
A Águas do Rio enviou um caminhão-pipa ao local, mas num hospital enorme, com 4 reservatórios que recebem 1 milhão e 600 mil litros de água, não é suficiente.
A concessionária, responsável pelo abastecimento na região, diz que a falta d'água está sendo causada por uma obra em uma adutora em Manguinhos, que se rompeu no domingo (7).
Desde então, estão com o abastecimento suspenso os seguintes bairros: Flamengo, Catete, Glória e Laranjeiras, na Zona Sul; as regiões Central e Portuária; e os arredores de Bonsucesso, Higienópolis, Ilha do Governador, Jacarezinho, Jacaré, Manguinhos, Olaria e Ramos, na Zona Norte.
“Por volta de segunda-feira, às 15h30, nós avisamos aos principais clientes que este serviço ia ser feito, inclusive o Hospital dos Servidores”, diz o diretor institucional da Águas do Rio, Sinval Andrade.
A direção da Águas do Rio explica que o reparo da adutora foi concluído nesta quarta, mas que ainda vai levar um tempo para o abastecimento ser normalizado.
“Em 72 horas, o serviço vai estar regularizado. Lógico que em pontas de rede ou locais mais distantes você pode demorar um pouco mais”, fala Sinval.
Procurada, a direção do Hospital dos Servidores disse que tomou conhecimento da suspensão do fornecimento nesta terça e que, por isso, decidiu priorizar pacientes internados. A direção não respondeu o motivo pelo qual os pacientes não foram informados previamente.